Com a Palavra… Dra. Cláudia Brazão, coordenadora do setor de exames de Osteoporose do CEPEM

Artigo médico 1 (10-07-2018)

Qual o cenário da osteoporose hoje no país em termos de crescimento da doença ao longo dos anos, faixa etária mais atingida, região, sexo… ?
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 10 milhões de brasileiros são atingidos pela doença. Segundo dados do IBGE de 2000, há cerca de 15 milhões de brasileiros propensos a apresentar a osteoporose, número que tem projeção para cerca de 18 milhões em 2020.
Homens e mulheres são acometidos e esta é uma doença relacionada, principalmente, ao envelhecimento, já que após os 40 anos há uma tendência de perda fisiológica da massa óssea. Nas mulheres, essa perda se acelera nos dez anos que cercam a menopausa e, portanto, são um grupo de maior risco se comparado aos homens, para os quais os efeitos da perda de massa óssea são mais evidentes após 65 anos.
A partir dos 50 anos, 30% das mulheres e 13% dos homens poderão sofrer algum tipo de fratura por osteoporose ao longo da vida.
No Brasil, o estudo BRAZOS publicado em 2010, que avaliou fatores de risco para fraturas na população brasileira, não identificou diferença de prevalência de fraturas estatisticamente significativa entre as cinco regiões brasileiras estudadas.
 
Quais são as melhores formas de se prevenir contra a osteoporose? O que as pessoas precisam saber?
A osteoporose é uma doença silenciosa, cuja manifestação mais importante é a fratura por fragilidade, ou seja, por baixo impacto, como a queda da própria altura. As fraturas mais frequentes são as vertebrais e as do quadril (colo do fêmur).
A prevenção da osteoporose deve ser um objetivo durante toda a nossa vida, pois o nosso esqueleto serve como elemento de sustentação, mas, também é o reservatório de cálcio e fósforo do organismo, que são elementos essenciais para muitos processos metabólicos. Manter uma boa ingestão de alimentos contendo cálcio e vitamina D, esta última, necessária para boa absorção do cálcio, praticar atividades físicas regulares para estimular a musculatura e buscar uma exposição adequada ao sol (para ativação da vitamina D), são importantes para diminuir o risco de desenvolver a osteoporose. Há outros fatores envolvidos na gênese desta patologia, que também devem ser considerados. Neste grupo. deve-se considerar o uso de alguns medicamentos que aceleram a mobilização do cálcio do osso ou que competem pela sua absorção, ou ainda as características familiares, o tabagismo e o baixo peso que, também, compõem os fatores de risco.
Outro enfoque importante para a prevenção das fraturas é a atenção ao ambiente de moradia, evitando riscos de queda, o uso de sapatos adequados para caminhada e a avaliação visual, pois nesta faixa etária de maior risco é frequente a diminuição da acuidade visual por opacificação do cristalino (catarata).
 
Quais são os principais exames existentes atualmente para detectar o problema? Temos novidades em termos de diagnóstico para a doença? Se sim, quais?
O exame de escolha para avaliar a massa óssea e diagnóstica da osteoporose é a Densitometria Óssea (DXA), com análise do fêmur proximal, da coluna vertebral e do antebraço não dominante. Este último, com indicação em situações mais específicas, como no caso da prevenção de fraturas, em que a ocorrência das mesmas não é exclusiva da osteoporose.
Indivíduos com baixa massa óssea também podem fraturar, porque a ocorrência de fratura não é dependente exclusivamente da medida de densidade mineral óssea (DMO), mas é resultado de fatores que afetam a qualidade do osso e que não podem ser medidos por meio da Densitometria, exclusivamente.
O emprego da análise pelo TBS (Trabecular Bone Score), que é uma aplicação de software que acessa a textura óssea a partir de uma aquisição DXA de coluna vertebral, permite uma correlação qualitativa. Valores baixos de TBS estão associados a um maior risco de fratura, independente da DMO ou de fatores de risco clínicos.
 
No CEPEM, quais são os exames que podem auxiliar o paciente na detecção/controle da evolução da osteoporose?
No Cepem, temos a Densitometria Óssea. Para pacientes com idade a partir de 65 anos, é incluída a análise DXA do antebraço não dominante, para cujos resultados os critérios da OMS são aplicáveis, e para pacientes que na análise de fêmur ou coluna lombar não apresentaram critérios para diagnóstico de osteoporose (T-score Outro exame é o TBS (Trabecular Bone Score), disponível na unidade Botafogo para pacientes que realizam o estudo de DXA de coluna lombar e fêmur.
 
Quando desconfiar que se está com osteoporose? Existem sintomas clássicos ou é uma doença silenciosa, que só se associa no caso de uma fratura inesperada, etc?
O diagnóstico é obtido por meio do exame de Densitometria Óssea ou quando ocorre fratura por fragilidade, seja ela do colo do fêmur ou do antebraço.
As fraturas vertebrais são, de uma forma geral, sub-diagnosticadas, uma vez que são oligossintomáticas e não resultam em incapacidade imediata, como as fraturas do colo do fêmur.
 
Qual o tratamento, normalmente, mais indicado para a osteoporose?
O tratamento medicamentoso dever ser realizado sob a supervisão do médico assistente e inclui drogas antirreabsortivas ou pró-formadoras, bem como a adequada suplementação de Cálcio e Vitamina D.
Quando indicada, a reposição hormonal com estrógenos possui efeito benéfico para o equilíbrio da remodelação óssea em mulheres na pós-menopausa.
Muito importante é a terapia não medicamentosa, com a inclusão na rotina de atividades físicas regulares, exposição criteriosa ao sol, controle do ambiente para diminuir os riscos de quedas, atenção às dificuldades visuais e adequação dietética.
 
Saíram duas pesquisas recentes afirmando que o brasileiro consome menos cálcio do que deveria. E que a maioria dos idosos com osteoporose não sabe que tem a doença e ignora, mesmo quando há fraturas. O que poderia nos dizer sobre isso?
A qualidade do nosso osso não depende somente do cálcio que ingerimos na vida adulta, mas da qualidade dietética na fase de desenvolvimento ósseo, a qual vai determinar o pico de massa óssea, que é atingido por volta dos 19 anos.
Nosso esqueleto tem função de sustentação, mas, é o reservatório de cálcio e fósforo do organismo para os diversos processos metabólicos. Por isso, quando a ingestão de cálcio não é suficiente, este é mobilizado do reservatório ósseo, determinando a desmineralização.
Acredito que falte informação e interesse em realizar campanhas de conscientização para uma questão tão importante, que afeta uma parcela significativa da população, principalmente a terceira idade. Nessa faixa etária, a ocorrência de fraturas representa um alto custo para o sistema de saúde.
Quanto ao sub-diagnóstico da osteoporose sabe-se que, de fato, a ocorrência de fraturas é que chama atenção para a pesquisa da patologia, já que não há um protocolo de rastreio, como existe, por exemplo, para a detecção do câncer de mama.
Quanto ao hábito do veganismo cada vez mais difundido, o que se deve é ter acompanhamento médico para suprir as necessidades diárias, seja por meio da dieta ou com suplementação medicamentosa.

Share

NOSSAS REDES:

CRIADO POR:


CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS DA MULHER - 73.380.073/0001-20